sexta-feira, 12 de junho de 2009

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Primeiros passos - fundamentos filosóficos disse...

Todos nós temos consciência que o Homem não é, nem nunca será, o deus diante de quem outro homem deve ajoelhar-se. Nenhum ser da nossa espécie, portanto, jamais será onisciente. Isso vale, antes de mais nada, para os professores, cientistas e líderes políticos..
O avanço da ciência e do pensamento discursivo filosófico nos mostrou algumas vezes de maneira clara outras nem tanto que a descoberta científica, assim como a maioria do saber produzido por nós ao longo de milhares de anos, baseia-se numa ignorância consciente, no controle dos limites da razão.
Em tal consciência, nesse saber que não sabemos nada de absolutamente certo, é que consiste a sabedoria da tradição que foi iniciada por Sócrates e encontra desdobramentos até na obra de Popper.
Sócrates é aquele que sabe que não sabe, que conhece os limites dos erros gerados pelo conhecimento, quando solicitamos seus mecanismos internos.
Quem tem o papel de ensinar deve ter em mente que há alguns limites fundamentais de nossa capacidade de autocompreensão. Devemos concentrar a própria atenção em questões-limite, que geralmente não foram analisadas e são consideradas até imprevisíveis, que excedem o âmbito lógico-filosófico, passando para o metafísico. Tal situação ocorre quando tomamos decisões sobre questões que, em linha de princípio, são indecidíveis. Vice-versa, as questões decidíveis dependem de regras que conhecemos. No entanto, elas apresentam questões que permanecem indecidíveis.
Um aluno quando nos pergunta qual é a origem do nosso universo ou por que a língua portuguesa foi gerada dessa forma e não de outra... Perguntas que parecem problemas que permanecem indecidíveis.
Que fique claro: não há muitas hipóteses, teorias ou narrações para estas ou outras questões, mas não temos uma uma resposta unívoca.
Também devemos pensar que só podemos decidir as questões indecidíveis, pois as decidíveis já foram decididas com base em algumas regras”.
Como respondemos então à pergunta: representar o mundo ou construir um mundo? A fonte primária do conhecimento é dada por nossa experiência e o mundo é uma sua conseqüência? Ou então a fonte primaria é o mundo e a experiência é uma sua conseqüência? Não há resposta?
Eu sei que não há uma única resposta, como também nenhum caminho pode ser conhecido com antecedência. O próprio caminho é uma experiência. E o experimentar não se trata de buscar novidades absolutas, mas de seguir o rastro de persistência de histórias, linguagens, tradições

terça-feira, 9 de junho de 2009

E aí....



Quantas vezes não nos perguntamos se nesse mundo pós-moderno há lugar para a Filosofia (aos moldes do seu desenvolvimento na Antiga Grécia)? Pensar filosoficamente o mundo, a nossa profissão e todas as relações que daí são emanadas, certamente, é uma tarefa de suma importância.
Quando nos voltamos para a origem da Filosofia com Sócrates percebemos que o saber filosófico surge a partir da dúvida, da incerteza, daquilo que está incompleto. Ou seja, Sócrates ao afirmar que "só sei que nada sei" muda o foco do conhecimento: no lugar do plenamente conhecido, da certeza absoluta, ele nos propõe a dúvida. A pergunta filosófica se torna tão ou mais importante do que a certeza apresentada pela resposta. Sócrates abre o caminho para a pesquisa da verdade. Ele nos ensina a se afastar da opinião (da doxa) e nos mostra que a experiência puramente empírica pode se perder numa aventura sem guia.
Tal afirmação nos mostra o quão nocivo foi aquele professor tradicional cheio de verdades perfeitas e fechado para qualquer diálogo que poderia reconstituir o saber a partir do cofronto e da síntese das idéias. O pensamento é fruto de um saber construído dialeticamente. Aluno e professor num diálogo constante são capazes de construir, destruir e reconstruir o conhecimento. O processo de aprendizagem é contínuo e nunca acaba. Aquilo que nós produzimos se abre aos olhos dos outros de múltiplas forma. Quantas vezes, um texto e/ou uma imagem foram lidos de muitas formas. Todas elas pertinentes e complementares.
Nesses últimos meses, foram postados aqui (e também enviados por e-mail) vários textos, várias imagens. Algumas pessoas sentiram um certo estranhamento. Recebi alguns e-mails comentando o que estava aqui, vi alguns comentários no próprio blog e algumas pessoas me pararam para falar que assistiram e discutiram o filme proposto ou que não entenderam o elo entre as fotos antigas e as idéias apresentadas. Tudo ainda muito tímido, mas extremamente pertinente. Por isto com esse texto quero convocar todos para que coloquem as suas impressões no formato de texto ou imagem.

Rankings, novas tecnologias, professores e alunos: que escola queremos?




Rankings, novas tecnologias, professores e alunos: que escola queremos?

Ronaldo Campos

Quantas vezes procuramos listas para saber qual é a melhor escola para matricularmos os nossos filhos ou para escolher um curso superior? Vivemos uma época (marcada por uma pseudo ciência que prega uma falsa objetividade e neutralidade), onde, tudo pode ser mensurado e classificado em rankings. São infinitos os exemplos de listas: listas dos melhores discos, das melhores opções para viajar e até das melhores escolas segundo o provão do MEC, do Enem...
Segundo o MEC, o ranking escolar só aprova 0,8% das cidades (Folha de São Paulo, 26 de abril de 2007). Segundo essa pesquisa, 1 (um) é o número de municípios nordestinos na lista de melhores avaliados. A cidade é Alegre do Pindaré, no Maranhão. 81% dos mil piores avaliados são do nordeste. E 15% dos mil piores avaliados estão no Norte. 11 é o número de municípios paulistas entre as 33 cidades do país com nota a partir de 5,7. 80% dos 239 municípios com nota maior ou igual a 5,0 estão no sudeste. 18 % dos mesmos 239 estão na região Sul.

Para Fernando Haddad (Educação), segundo o jornal a Folha de São Paulo, de 24 de novembro de 2007, a “escola pública será sempre pior”. Ele fez tal afirmação ao comentar o resultado do Enem, em que escolas particulares se saíram melhor. Ele afirmou “no dia em que a rede privada for pior do que a pública, por definição, ela acabará, já que ninguém vai pagar para receber um ensino que pode obter gratuitamente e com mais qualidade.” A impressão que temos é que a escola particular naturalmente deve ser sempre a melhor. E a metodologia de avaliação que constrói esses ranking só vai demonstrar o que já é conhecido por todos.

Mas nós não nos perguntamos qual a metodologia utilizada , quais os verdadeiros propósitos nas entrelinhas de tais pesquisas... Ou por que o nordeste sempre é descrito como um lugar marcado pelo atraso econômico e ate cultural... Por que a escola pública sempre é descrita negativamente...

A psicologa Rosaly Sayão, na sua coluna do jornal a Folha de São Paulo, do dia 12 de abril de 2007, levanta uma questão que pode ser utilizada na solução desse problema: “Qual a importância de uma ranking de escolas?”

Para a articulista da Folha, tais listas não possuem utilidade alguma e falam muito pouco sobre o valor de uma escola ou o seu modo de funcionar, apesar de tais listas servirem para avaliar a qualidade do ensino praticado.As escolas consideradas as tops de linha acreditam que o “bom” resultado obtido é a prova de estão no caminho certo e que não há necessidade de rever as suas práticas pedagógicas. As outras são pressionadas a conseguir resultados melhores. Será que o trabalho de uma escola se resume (se reduz) ao sucesso dos alunos num determinado tipo de prova? Será que o aluno tem que estudar para tirar uma nota boa na prova? A escola é só isto?

Segundo Sayão, a escola não é um empresa que precisa ser eficiente a qualquer custo. Enquanto estrutura social, a instituição escolar possui finalidades muito mais importantes, que só podem ser mensuradas uma ou duas décadas após o aluno sair de lá. Ou seja, além da transmissão do saber, a escola deve ensinar o exercício da cidadania e promover a construção da autonomia do individuo.


O que significa formar um cidadão? Certamente, é ensinar e praticar valores coletivos e democráticos, ensinar a conviver com a alteridade, a superar idéias preconcebidas e estereotipadas e, acima de tudo, a usar o conhecimento em beneficio da maioria, ou seja, a sua felicidade (o seu bem estar) individual não pode ser colocado acima do bem estar coletivo.
No atual contexto mundial, há dois caminhos: ou a perda gradual de um processo civilizatório ou a redenção de um pais pela educação de qualidade. Qual caminho que escolheremos?

A prioridade é a educação. E todos nós sabemos que a transmissão de conhecimentos básicos (e de valores) é de suma importância na formação de sujeitos capazes de absorver e produzir cultura simultaneamente. A escola nos fornece muitas habilidades e competências, mas a informação pura e descontextualizada não é suficiente. Por que devemos transformar o aluno de mero receptor de informações sujeito do processo cognitivo e formador da sua cultura. Contudo, ''pensar criticamente'' ao mesmo tempo o mundo que nos cerca e a nossa produção cultural é algo muito complexo e difícil de ser estruturado. Essa situação exige um interlocutor experiente que nos ajude a apontar e resolver as contradições, ao mesmo tempo que nos possibilita elaborar ferramentas que possam nos ajudar a reconhecer os limites, as diferenças e contradições do saber produzido socialmente, do mesmo modo que nos permita sintetizar e abstrair e, finalmente, se todo processo ocorrer a contento, possamos assumir a responsabilidade e ter a consciência de tudo aquilo que pensamos, falamos e fazemos na nossa época e na nossa sociedade.
Ao percebermos a educação nesse novo contexto, descobrimos que o ato de conhecer além de trabalhoso e complexo, exige um ensaio e um instrutor-diretor (o professor) capaz de dialogar e de remeter ao que já foi pensado ao longo da tradição histórico-filosófica-científica, sem que com isto tenhamos o sentimento da opressão. Não ficaremos com o sentido que fomos esmagados por todo o peso do conheciemento historicamente elaborado ao longo de toda a história da civilização.
Nesse mundo globalizado, o acesso a informação se tornou simples e rápido para quase todas as pessoas. Mas, aquilo que aparentemente, é simples e direto, se mostrou complicado. Uma vez que temos acesso a uma infinidade de informações num tempo cada vez menor, nós não sabemos como usar, como trabalhar tantas referências. E, assim, surge um perigoso paradoxo do nosso tempo, a informação é facilmente acessada por todos, mas o número de pessoas desinformadas cresce em um ritmo vertiginoso. Talvez, por isto, tanto a escola como o professor se tornam cada vez mais imprescindíveis no nosso mundo.
Aqui uma pergunta se torna importante: o que significa ser professor nessa sociedade capitalista-globalizada que almeja a inclusão e o multiculturalismo, mas que se torna a cada dia mais excludente e preconceituosa?
De fato, a profissão de professor (tão esquecida pelos nossos governantes) implica numa grande responsabilidade social. O desenvolvimento do Brasil passa pela transformação radical da escola e de todos os seus participantes. Aqui surgem alguns problemas, como pensar o desenvolvimento do nosso país com um número tão grande de professores atuantes que não possuem a formação mínima necessária? Segundo o jornal Folha de São Paulo, do dia 28 de maio de 2009, 27% dos docentes de 5ª a 8ª não têm diploma. O censo do Ministério da Educação e Cultura realizado com professores de escolas públicas e particulares revela que parte deles não têm formação exigida por lei. Os dados são assustadores: 13% dos nossos professores do ensino médio não possuem habilitação mínima para ensinar. Os dados dessa pesquisa nos mostra que existe um descompasso entre a formação do professor e o que ele tem a ensinar. As disciplinas de filosofia e sociologia, por exemplo, têm apenas 25% e 13% de seus docentes graduados em filosofia e ciências sociais respectivamente. Dos professores de física, apenas 25% foram formados por algum curso universitário específico da área – contra 34% que estudaram matemática. O mais absurdo é que até teólogo e bibliotecário dão aula de física.
E como pensar em transformar radicalmente a escola, se o nosso professorado está sofrendo de um esgotamento físico e psicológico? Sobre esse último assunto, basta ver a quantidade exagerada de professores afastados da escola por licença médica ou psicológica.
Alguns poderão se perguntar se tais problemas não estariam relacionados a incapacidades dos professores em se adaptar as muitas mudanças ocorridas nas três últimas décadas. Talvez, nessa sociedade pós-moderna, não nos sentimos capazes de perceber que tudo mudou (e essa mudança foi radical). Quem viveu os anos 70 ou 80, consegue perceber que as nossas referências não são as mesmas daquela época: os papéis sociais, as referência simbólicas, a exclusão e a inclusão dos atores sociais, ou seja, como numa peça de teatro o num filme, mudou o texto, o cenário, os objetos e a direção, mas alguns atores demoram para perceber isto. Esse sentimento de deslocamento é sentido por nós quando descobrimos que as noções e os valores da nossa época com relação a escola, o conhecimento e o trabalho do professor já não é mais o mesmo. Quantas vezes sentimos uma certa nostalgia (e em alguns momentos, até mesmo uma falta) do poder pleno que dispunha o professor de tempos idos? É certo que depois nos sentimos deslocados e mesmo ridículos em pensar dessa forma.
Algumas vezes o mundo muda tão rapidamente que nós, na escola, não percebemos imediatamente. Nesses momentos, a escola sofre de um profundo anacronismo. Todavia, para resolver esse problema não basta introduzir modernas tecnologias pedagógicas (áudio-visuais, informática, mídias interativas). Essa solução é muito simplista, mas também é quase um senso comum da sociedade que para resolver os problemas da escola e da educação bastaria promover a sua informatização. Quem não se lembra do projeto do governo federal de distribuição de mini computadores portáteis para alunos de escolas públicas. No projeto piloto, ao invés dos alunos estudarem mais e melhor o aprendizado, ocorreu justamente o inverso, ou seja, os alunos foram tragados pelo universo midiático da iternet (You Tube, Orkut, MSN) e deixaram as aulas em segundo plano.

A transformação da escola da forma como queremos não passa por uma simples troca de equipamentos, tecnologia, métodos ou fórmulas mágicas. Novamente, eu repito que a solução do problema não é externa, mas está na relação pedagógica aluno-professor. É certo que um dos caminhos mais indicados para essa nova empreitada está no papel do professor de indicar ou oferecer aos alunos um novo sentido para os seus estudos, para a escola.